quinta-feira, junho 14, 2007

O pavão Simão

- Quem és tu? O que procuras aqui? - Perguntou com alguma curiosidade o Simão, um pavão azul indiano, nascido e criado em Portugal, ao ver o interesse daquela meia dúzia de humanos pela sua brilhante plumagem azul e verde, de máquina fotográfica na mão, na esperança de assistir, a pedido, às suas penas levantadas em forma de leque na direcção do céu.
Afastou-se um pouco, empoleirou-se numa antiga varanda, deixando a sua comprida cauda colorida descair como um manto, permitindo-lhe uma melhor visão sobre os seus domínios e os seus concorrentes.




Decidiu deixar-se fotografar de perto, fez até pose... pensando o quão vaidoso se tinha tornado com tanta atenção que os humanos lhe prestavam… mas aquelas penas, delicadamente desenhadas e tão cobiçadas, tinham um intuito específico, e muito mais importante do que torná-lo belo, ou talvez por isso o tornassem belo… afinal de contas tinha nascido pavão! Um pavão que se preze de pertencer à espécie tem que se manter em forma e cuidar das penas! E pensando bem, levantar as penas da cauda em leque e abaná-las tão energicamente que até faziam som exigia um esforço tão grande, deixavam-no tão cansado, que só um motivo bem mais elevado, e recatado, o inspiraria…
Mas a Primavera tem destas coisas e apesar da presença dos humanos, visitas diárias daquelas ruínas, há coisas que não se podem mudar...

A Shah e a Shirah, duas das fêmeas que por ali circulavam, subiram para o telhado, e com alguns estridentes gritos, chamaram-lhe a atenção. Simão respondeu ao apelo e no exíguo espaço recatado do telhado começou uma dança de corte para ambas. Elas assistiam à vez àquela dança milimetricamente planeada, trocando comentários entre si… afinal de contas, cabia-lhes o peso de decidir se Simão seria o pai adequado para a geração seguinte! Enquanto isso Simão continuava a dança, majestosamente esticando e dobrando as penas da cauda sobre si, abanando-as, girando sobre o seu corpo, ilusoriamente aumentado pelo volume das penas.
- Estão a ver as minhas penas? Como são bonitas, brilhantes e grandes? Como protegem o meu corpo? E já viram a força que tenho para abana-las no ar?
Alguns humanos assistiam em silêncio àquele momento magnífico, as crianças de olhos esbugalhados apontavam em sussurro “Que bonito!”


Para Shah e Shirah a corte não terminará hoje, e Simão sabe terá que provar que ele é o melhor candidato a pai da geração seguinte, apesar dos olhares de admiração dos humanos, das fotografias…
A mim, restou-me agradecer-lhes ter assistido a todo o ritual! Afinal, encontrei o que nem sabia que procurava... ainda há coisas neste mundo que não mudam…

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