O pavão Simão
- Quem és tu? O que procuras aqui? - Perguntou com alguma curiosidade o Simão, um pavão azul indiano, nascido e criado em Portugal, ao ver o interesse daquela meia dúzia de humanos pela sua brilhante plumagem azul e verde, de máquina fotográfica na mão, na esperança de assistir, a pedido, às suas penas levantadas em forma de leque na direcção do céu.
Afastou-se um pouco, empoleirou-se numa antiga varanda, deixando a sua comprida cauda colorida descair como um manto, permitindo-lhe uma melhor visão sobre os seus domínios e os seus concorrentes.
Afastou-se um pouco, empoleirou-se numa antiga varanda, deixando a sua comprida cauda colorida descair como um manto, permitindo-lhe uma melhor visão sobre os seus domínios e os seus concorrentes.
Decidiu deixar-se fotografar de perto, fez até pose... pensando o quão vaidoso se tinha tornado com tanta atenção que os humanos lhe prestavam… mas aquelas penas, delicadamente desenhadas e tão cobiçadas, tinham um intuito específico, e muito mais importante do que torná-lo belo, ou talvez por isso o tornassem belo… afinal de contas tinha nascido pavão! Um pavão que se preze de pertencer à espécie tem que se manter em forma e cuidar das penas! E pensando bem, levantar as penas da cauda em leque e abaná-las tão energicamente que até faziam som exigia um esforço tão grande, deixavam-no tão cansado, que só um motivo bem mais elevado, e recatado, o inspiraria…
Mas a Primavera tem destas coisas e apesar da presença dos humanos, visitas diárias daquelas ruínas, há coisas que não se podem mudar...
A Shah e a Shirah, duas das fêmeas que por ali circulavam, subiram para o telhado, e com alguns estridentes gritos, chamaram-lhe a atenção. Simão respondeu ao apelo e no exíguo espaço recatado do telhado começou uma dança de corte para ambas. Elas assistiam à vez àquela dança milimetricamente planeada, trocando comentários entre si… afinal de contas, cabia-lhes o peso de decidir se Simão seria o pai adequado para a geração seguinte! Enquanto isso Simão continuava a dança, majestosamente esticando e dobrando as penas da cauda sobre si, abanando-as, girando sobre o seu corpo, ilusoriamente aumentado pelo volume das penas.
- Estão a ver as minhas penas? Como são bonitas, brilhantes e grandes? Como protegem o meu corpo? E já viram a força que tenho para abana-las no ar?
Alguns humanos assistiam em silêncio àquele momento magnífico, as crianças de olhos esbugalhados apontavam em sussurro “Que bonito!”
Alguns humanos assistiam em silêncio àquele momento magnífico, as crianças de olhos esbugalhados apontavam em sussurro “Que bonito!”
Para Shah e Shirah a corte não terminará hoje, e Simão sabe terá que provar que ele é o melhor candidato a pai da geração seguinte, apesar dos olhares de admiração dos humanos, das fotografias…
A mim, restou-me agradecer-lhes ter assistido a todo o ritual! Afinal, encontrei o que nem sabia que procurava... ainda há coisas neste mundo que não mudam…
A mim, restou-me agradecer-lhes ter assistido a todo o ritual! Afinal, encontrei o que nem sabia que procurava... ainda há coisas neste mundo que não mudam…
Etiquetas: Fotografia, Prosa
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home