sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Quem nasceu primeiro?

Lido o romance A fórmula de Deus. Considerando o referendo nacional sobre o aborto no próximo dia 11, e a recente “jovem” mãe espanhola de 67 anos.
Ocorre-me perguntar:
Qual é a ideia afinal? Deificação do Homem?
É facto que temos medo de morrer. É facto que o progresso nos tem ajudado a aumentar a esperança média de vida. É facto que lutamos incansavelmente contra a morte. É facto que, em alguns casos, melhoramos a qualidade dessa vida. É facto, também, que nem sempre as coisas correm como desejaríamos. É facto que por causa do progresso assistimos hoje ao início de um futuro, cada vez menos indeterminado, onde a espécie humana, e o planeta, como conhecemos hoje cessarão de existir. Ficção científica?! Talvez.

Ontem, no regresso a casa, ouvia o conhecido stand-up Nilton comentar a propósito da sua existência, "marginal", na Second Life, que nem mesmo virtualmente se consegue um mundo sem clandestinidade, é que, entre outras coisas, o preço das casas virtuais é realmente elevado, mesmo num mundo virtual... dá que pensar!

Procuramos cada vez mais o controle sobre a nossa brevíssima existência no planeta, no nascimento e na morte, quer enquanto indivíduos quer enquanto espécie.
Diz-se que existem sempre dois lados para qualquer história, pelo menos acrescento eu. Não vou argumentar a favor, ou contra, a despenalização do aborto até às 10 semanas. Creio que é uma questão de consciência.
Seja em que altura da gravidez for, qualquer mulher sofre com as consequências físicas, psicológicas e sociais de um aborto.

Mas... vamos a factos... a Lei Actual afirma... e o Projecto de Lei em Referendo...

Não creio que a pergunta:
“Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas 10 primeiras semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?”,
de novo em referendo, acrescente melhorias significativas a médio/ longo prazo na qualidade da Educação, sexual e não só, e do Planeamento Familiar, que é afinal de contas o caminho de Prevenção, que qualquer Sociedade, dita Civilizada, deve almejar.

Pelo contrário, creio que a longo prazo contribuirá potencialmente para um “aborto do dia seguinte”, que é complicado em termos psicológicos, e sociológicos.

Mais ainda, não creio que a pergunta reflicta as preocupações dos Portugueses, de forma inequívoca.
Creio que é relativamente consensual que abortar é pena suficiente, mas temo que se corra o grave risco de desresponsabilização de cada cidadão pelos seus actos privados. Mais ainda, que se está, subtilmente, a retirar um elemento essencial desta equação, o homem.

As redes de Educação, Planeamento e Apoio devem, no meu entendimento, preceder qualquer actuação do casal no sentido de remediar uma gravidez indesejada.

Afinal de contas, a Europa tem uma população envelhecida, e em envelhecimento. Mas o rejuvenescimento não deve ser feito a qualquer custo.

Talvez seja mesmo altura de pensarmos globalmente, vivemos num planeta doente, e só nós, cada um de nós, tem o poder para alterar o estado das coisas, com Bom Senso, que cada vez mais parece ficar escondido por detrás de um individualismo egoísta, alicerçado no desenvolvimento e no conhecimento de novas técnicas de suporte à vida.

É caso para perguntar:

Quem nasceu primeiro? Deus ou o Homem?

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2 Comments:

Blogger Thinker said...

excelente comentário minha querida.

sábado fev. 10, 10:01:00 da manhã 2007  
Anonymous Anónimo said...

Eu diria mesmo: sem comentários!
Por acaso a pergunta do referendo como é apresentada apenas se refere ao alargamento do prazo de 6 para 10 semanas, o que apesar de ser um dado novo, é de facto pouco conciso. Receio a Lei que vai ser aprovada, pois os casos mais graves de mulheres sem condições socioeconómicas, e com agregados familiares infindáveis, onde na maioria dos casos existem vítimas de maus tratos sobre menores, abuso sexual, e consequente abandono á sorte, já para não falar da anomalias á nascença por consanguinidade, ou outras deficiências, seriam evitáveis com o aconselhamento, e tomada de medidas de defesa desse agregado familiar.
Voltamos á questão da educação social/sexual, das consultas de planeamento familiar, mas que nesta faixa da sociedade se torna difícil e inoperante.
Concordo que uma Mãe já com 5 filhos dos quais 2 são deficientes, e o Pai sofre de perturbações psicológicas, se submeta a uma laqueação de trompas, mas não concordo que se começem a fazer abortos agora sob vigilância médica a senhoras, que dantes os faziam no estrangeiro e passam a fazê-lo nos nossos hospitais apenas pq a pílula é uma coisa mto "chata", faz mal, e o preservativo "não dá jeito",para além de sermos nós mais uma vez os contribuintes que iremos pagar a factura.
Sou a favor da interrupção voluntária da gravidez "consciente", e penso que no campo da consciência e do bom senso há muito ainda a fazer.
Porque o sofrimento da mulher esse existe e é preciso minorá-lo a todo o custo.
Parabéns! Estás a escrever cada vez melhor!!! Bjs

quarta fev. 14, 12:18:00 da manhã 2007  

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